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A Ponte da Boa Vista, na capital pernambucana. Nas ruas, o clima político se tornava cada vez mais tenso entre liberais e conservadores. Litografia de Luís Schlappriz, década de 1860. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

Movimentava-se em Pernambuco, aos poucos, vindo das ruas, segundo Amaro Quintas, um "turbilhão popular" que não seria contido, mesmo que alguns membros da cúpula praieira tivessem intuitos puramente políticos, desejando apenas alcançar posições de mando. O embate em gestação, principiado na imprensa, evoluía para uma disputa política – mais tarde armada – acirrada.

Nas ruas, os versos populares instigam, provocando:

"Machado que corta lenha
Também corta mulungu
Praieiro que tem vergonha
Não fala com guabiru".

O problema social em Pernambuco preocupava extremamente todos aqueles que eram impelidos por razões humanitárias e idealistas e desejavam encontrar soluções para os problemas mais emergentes da sociedade da província. Por isso, Antônio Pedro de Figueiredo, imbuído desse espírito de reforma social, escrevia: "Que são as reformas políticas sem as reformas sociais? Uma máscara e nada mais".

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O jornal O Nazareno, Diário da Tarde reivindicava reformas sociais na província de Pernambuco. Detalhe da edição de 29/3/1848. Domínio público, Bilioteca Nacional Digital

Outros, do lado oposto, situacionistas, eram movidos, segundo o que se comentava, por interesses pessoais e eleitorais. Borges da Fonseca, que costumava declarar que "só tinha compromissos com o povo", prevenia em 23 de junho de 1848, em O Nazareno: "Não se iluda o povo. Há espertalhões que (...) querem uma oligarquia onde só governem os brancos (...) A liberdade deve ser conquistada para todos (...) porque todos somos filhos de Deus".

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O liberal Antônio Chichorro, presidente da província eleito em 1844. Seu governo foi marcado pelo desmonte da política da poderosa família Cavalcanti e pelo clima cada vez mais turbulento nas ruas. Domínio público, Portal do Professor

Em 2 de fevereiro de 1844 os liberais voltaram ao poder com a subida do gabinete chefiado por Almeida Torres, futuro Visconde de Macaé. Entretanto, em Pernambuco, não ocorreria uma mudança significativa e favorável à facção vitoriosa. Apesar do controle dos "guabirus", as eleições à Assembleia Geral tiveram como resultado uma bancada maciçamente praieira. No ano de 1845, foi nomeado para a presidência da província o desembargador Antônio Pinto Chichorro da Gama, liberal e pessoa de confiança dos praieiros.

Sua administração foi assinalada pelo desmonte da estrutura política herdada do período do domínio dos Cavalcanti. Abriu inquéritos, devassando engenhos, onde chegou a encontrar inúmeros escravos roubados. Paralelamente, enfrentava agitação e inquietude provocada pelos antagonismos políticos.

Em Recife, Chichorro enfrentou constantes motins e levantes, como os "mata-mata" de 1847, quando portugueses foram atacados. Esses negociantes estrangeiros, vistos como inimigos, classe exploradora, "marotos", motivavam o canto que se ouvia por Recife afora:

"Corja de vis marotos,
Amigos das borracheiras
Dar-vos-emos a resposta
Nas pontas das lambedeiras".

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O conservador Marquês de Olinda, Pedro de Araújo Lima, nomeado presidente do Conselho de Ministros, em 1848, após a queda do gabinete liberal de D. Pedro II. Litografia de S. A. Sisson, 1861. Domínio público, Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

A cidade vivia em polvorosa, prenunciando um movimento armado que se aproximava cada vez mais. Nesse clima turbulento, em 2 de abril de 1848 o presidente Chichorro da Gama foi exonerado. No período de quase sete meses, cinco outros presidentes ocuparam o governo da província sem conseguir conter as agitações que se alastravam. A situação de Pernambuco ressoara no Rio de Janeiro, ocasionando a queda dos liberais no governo do Império.

Para formar o novo ministério conservador, D. Pedro II chamou, em 29 de setembro de 1848, Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda, parente dos Cavalcanti. Quase ao mesmo tempo, na França, a reação burguesa contivera e abatera as transformações mais radicais iniciadas em fevereiro daquele ano. Isso mereceu uma observação de Nabuco, que, percebendo os fatos, declarara: "O efeito da Revolução de Fevereiro em França estava gasto".