Logo que as notícias sobre a descoberta de metais preciosos se espalharam, entre o final do século XVII e começo do XVIII, a Coroa portuguesa respirou aliviada diante das possibilidades de amenizar, ao menos momentaneamente, a crise financeira e econômica que vivenciava. Confirmava-se a opinião de muitos que acreditavam existir metal precioso na América portuguesa, como havia na América espanhola.
Novos interesses e outras atenções passaram a ser dispensados para as capitanias do Sul, onde as possibilidades de riqueza eram extremamente mais favoráveis. A sede por rapidamente reunir fortuna atraiu para as regiões meridionais um incontável número de pessoas. Ávidos aventureiros, ou não, dirigiram-se para os sertões do planalto, “além das serras”, segundo o historiador Vivaldo Coaracy, em busca do Eldorado.
No início do século XVIII, informado sobre os acontecimentos naqueles sertões distantes, o jesuíta André João Antonil (1649-1716) observou que “a cada ano vêm nas frotas quantidades de portugueses e de estrangeiros, para passarem às minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios. (...) A mistura é de toda condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos, muitos dos quais não têm no Brasil convento nem casa”.
Em grande parte, o ouro encontrado era de aluvião. Falava-se, então, que nessa região não havia justiça nem governo, apenas muito, muito ouro. O tempo, entretanto, apresentou uma realidade bem diversa dos sonhos daquelas pessoas que se aventuraram buscando fortuna e boa sorte.
A cidade do Rio de Janeiro, inicialmente, não foi beneficiada com as descobertas tão ansiadas pelo Reino. A população passou por um período de encarecimento dos alimentos e da mão de obra africana, diante das necessidades da região aurífera. Os rebanhos de bois e os comboios de mulas circulando por caminhos distantes do Rio de Janeiro complicavam mais ainda o abastecimento. Tal situação foi modificada quando o governo metropolitano, preocupado em fiscalizar e controlar a circulação do ouro, a arrecadação dos impostos e o contrabando frequente, ordenou a abertura de outro trajeto. Esse percurso, chamado de Caminho Novo, acrescentou à vocação marítima e atlântica da cidade a vocação continental.
Na transição do século XVII para o XVIII, o Rio de Janeiro viveu um momento significativo: adquiriu protagonismo inegável na economia da colônia, em consequência do trânsito de metais preciosos e de escravos. Pelo porto, escoavam riquezas, e a cidade voltou a chamar a atenção de outros reinos europeus. Novas invasões francesas aconteceram em 1710 e 1711.