Para os letrados, quase todos oriundos das famílias que pertenciam à boa sociedade, havia vida inteligente na capital imperial, além daquela relacionada à moda europeia das vitrines, das quinquilharias, das vaidades, dos paladares e afins. Até porque muitos não se deixavam levar por esse modismo de ser europeu. Machado de Assis (1839-1908), por exemplo, ironizava tais comportamentos e maneiras sociais da época. A história do logradouro, a Rua do Ouvidor, se confunde com a do próprio escritor, já que ali foi fundada, no número 31, a Academia Brasileira de Letras, em 1896. Grande parte das obras de Machado veio a ser publicada pela Livraria Garnier, localizada nessa artéria do centro do Rio de Janeiro.
Na Ouvidor, nasceram e morreram, ao sabor dos ventos culturais e das tempestades políticas, dezenas de publicações que indicavam a variedade de pensamentos e de discursos feitos na cidade enquanto capital do Império do Brasil. Estiveram instalados ali, entre periódicos e revistas, diversos jornais, como Diário de Notícias, Jornal do Commercio, A Nação, O País e a Gazeta de Notícias. Este último, quando passou para as mãos do escritor Olavo Bilac (1865-1918) e do jornalista João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (1881-1921), o João do Rio, recebeu um cunho de crônica social, em que se misturavam seções políticas com outras que tratavam, por exemplo, de concursos de elegância e beleza masculina no Brasil.
Contabilizavam-se livrarias, em 1844. A Universal, de propriedade de E. & H. Laemmert, situada na Rua da Quitanda, se tornou a principal casa editora brasileira no final do século XIX. Ali, a leitura se atualizava e o gosto dos cariocas letrados, especialmente quanto à literatura francesa, se aprimorava. Havia livros de autores brasileiros também, como o primeiro volume da História Geral do Brasil, de Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), editado em 1854. Um romance de José de Alencar (1829-1877), O Guarani, que o jornal Diário do Rio de Janeiro vinha publicando em folhetins, era aguardado ansiosamente. Em outras livrarias, como a Garnier ou a Briguiet, os intelectuais encontravam traduções de pensadores franceses como Honoré de Balzac ou Victor Hugo. Na Biblioteca Nacional, tomavam-se emprestados livros de autores diversos.
Pelas inúmeras ruas da cidade do Rio de Janeiro passaram estrangeiros, escravos, viajantes, letrados, artistas, religiosos e desvalidos, em uma profusão de histórias, de ideais e de sonhos. Eram homens e mulheres que viveram as suas vidas, ou parte delas, na capital do império brasileiro. À sombra do passado ou diante do futuro?