Muitos usufruíam, felizes, as mudanças acontecidas em menos de dez anos. O cumprimento das metas estabelecidas pelo prefeito do Distrito Federal, Francisco Pereira Passos (1836-1913), e o estabelecimento de novas regras urbanísticas (claraboias para arejar melhor os cômodos das casas, por exemplo) mudaram as feições da cidade. A estrutura portuária, inadequada diante do crescimento do fluxo comercial, foi remodelada e reequipada, tornando-se a mais moderna da América da do Sul.
Acreditava-se que inúmeras doenças tinham sido erradicadas por meio da campanha de vacinação em massa. Além disso, havia os encantos da Avenida Beira-Mar, com seus jardins, o Campo de Santana recuperado, a própria Floresta da Tijuca e o teleférico do Pão de Açúcar (1913). Tudo reforçava uma tradição que, desde os anos finais do século XIX, valorizava os sítios naturais e os espaços públicos. Segundo a historiadora Margarida de Souza Neves, em 1908 o escritor “Coelho Neto criava um título para a cidade modernizada: ’Cidade Maravilhosa’, mais tarde aclamada como ‘coração do meu Brasil’ por uma marchinha famosa (hoje, o Hino Oficial da Cidade). Estava feita a reforma que transformou o Rio de Janeiro na capital do progresso”.
Estudiosos consideram que, para o Rio de Janeiro, talvez o século XIX tenha terminado em 1910. Ponderam que foi durante a primeira década do século XX que a imagem como grande capital sul-americana, sonhada nas pranchetas dos arquitetos e dos engenheiros, ganhou visibilidade, marcando um tempo importante da história urbana da cidade.
Porém, problemas como a quantidade de analfabetos, sem qualquer capacitação profissional, desempregados e sem-moradia – efeito imediato da Lei Áurea – persistiam. A demanda por emprego e moradia era muito maior do que a oferta. Pereira Passos, percebendo o rápido crescimento da população e o potencial fracionamento social que isso poderia implicar, buscou algumas alternativas para minimizar conflitos sociais. Nesse sentido, executou algumas ações que promoveram maior integração urbana, como a construção de uma vila operária na Avenida Salvador de Sá (decreto de janeiro de 1905).
Segundo o historiador André Nunes de Azevedo, o prefeito classificava os operários como “modestos, mas valiosos obreiros da civilização”. Embora não os considerasse protagonistas no processo de desenvolvimento da civilização, como os empresários, os intelectuais, os artistas e os cientistas, entendia, prossegue Azevedo, que os “trabalhadores manuais, uma vez alojados com dignidade e educados para a manutenção da ordem e a obediência aos preceitos de uma elite ilustrada, ocupariam um lugar, embora modesto, como operadores da civilização”.
Entre cenários e virtudes, as aparências enganavam. No desafio de a cidade ser cosmopolita, nem todos estavam tão felizes. Havia os desiludidos com os caminhos que a República tomava e os excluídos. Estes não seriam convidados para a festa da vida mundana e cultural que acontecia, por exemplo, na Avenida Central, nem frequentariam as lojas da moda, os teatros, as casas de chá da tarde, os restaurantes, os cinemas. Não iriam, também, usufruir a reformada cena urbana de progresso que transformou regiões da cidade, capital federal.