O período regencial, tendo como espaço de atuação a cidade do Rio de Janeiro, não encerrou as sucessivas crises políticas que levaram à abdicação de D. Pedro I (1798-1834) em favor de seu filho, ainda menor, no dia 7 de abril de 1831. Segundo o historiador José Murilo de Carvalho, nesse período seria reproduzida no Brasil “a fase tumultuada por que passou a América hispânica entre 1810 e 1825, às voltas com a construção de seus Estados nacionais e de seus sistemas republicanos de governo”.
Mas se os ânimos políticos não foram apaziguados nessa fase, sob o governo regencial, de acordo com o que previa a Constituição Outorgada de 1824 (inicialmente trina, passando depois a una), marcantes realizações aconteceram na capital do Império, a partir da criação de instituições de significativa importância na cidade: o Colégio de Pedro II (atual Colégio Pedro II) e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, “com a finalidade de desenvolver uma política cultural para o país”, segundo palavras do historiador Ilmar Rohloff de Mattos.
Em 1837, Bernardo Pereira de Vasconcelos (1795-1850), ministro do Império, apresentou ao regente Pedro de Araújo Lima (1793-1870) uma proposta para a organização do primeiro colégio secundário oficial do Brasil: o Colégio de Pedro II (atual Colégio Pedro II), localizado onde hoje é a Avenida Marechal Floriano, no centro da cidade. No Art. 3º do Decreto de Fundação (2 de dezembro de 1837, dia do aniversário do herdeiro do trono) consta: “Neste colégio serão ensinadas as línguas latina, grega, francesa, inglesa, retórica e os princípios elementares de Geografia, História, Filosofia, Zoologia, Mineralogia, Álgebra, Geometria e Astronomia”.
A inauguração e o começo das aulas ocorreram em 25 de março de 1838. Compareceram o jovem herdeiro e suas irmãs, o regente Araújo Lima, assim como todos os ministros de Estado. Essas presenças ilustres demonstravam a importância política dada ao colégio, que recebeu atenções especiais em sua organização e orientação. Afinal, era uma instituição aristocrática destinada a oferecer a cultura básica necessária às elites dirigentes, a chamada “boa sociedade, formada por aqueles que eram brancos, livres e proprietários de escravos e de terras”, no dizer do historiador Ilmar Rohloff de Mattos. “Essa boa sociedade dependia de bons governantes, de bons administradores e de bons agentes civilizadores, como, por exemplo, o médico, o romancista e o professor de História e de Geografia.” A frase a seguir, citada pelo escritor e jornalista Jaime Klintowitz, pertence a D. Pedro II (1825-1891): “Se eu não fosse imperador desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens do futuro”.
Por outro lado, segundo os números da época, com uma população brasileira em torno de 8,8 milhões de habitantes, apenas 1,2% era de alunos matriculados nas escolas do Império. Nesse contexto, muitos estavam longe da felicidade, da liberdade e do saber tão falados entre os letrados naqueles tempos.