Para os historiadores que se dedicam ao estudo da passagem do Império para a República, o ideário republicano foi um fator decisivo para a mudança do regime político no Brasil. A historiadora Maria Tereza Chaves de Mello registra que a opinião pública do país, quase em sua totalidade, havia perdido a confiança no trono. A presença de correntes com elementos opostos confirmava o debate vivenciado naquela época e percebido nas palavras de Antônio da Silva Jardim (1860-1891), advogado e jornalista de grande atuação no movimento republicano, especialmente na cidade do Rio de Janeiro. Em uma conferência, intitulada A Pátria em Perigo, registrou que as “tradições egoístas, aristocráticas, do privilégio, o espírito de retrogradação se apresentam (...) contra os fortes, os novos, elementos populares de paz, trabalho, liberdade, fraternidade, progresso e ordem, que eram representados pelas pessoas ali reunidas”.
Um estudo do intelectual Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero (1851-1914), publicado no Diário de Notícias de 17 de julho de 1889, citado pela mesma historiadora, destaca a seguinte argumentação: “A ninguém é dado mais iludir-se sobre as aspirações republicanas do povo brasileiro. Presenciamos uma evolução irresistível. A marcha ascendente das camadas populares, sua fatal tendência a superar as velhas instituições da monarquia, da nobreza militar, da clerezia e da própria classe média, é um desses postulados da história universal, que só a fanáticos ou a ignorantes é dado desconhecer. Não se trata aqui de saber se é um bem ou se é um mal; afirma-se que é fato inevitável (...) termo necessário da evolução total da humanidade. (...) Ora, o ritmo social é hoje para a democracia, sem a menor sombra de dúvida. (...) Onde a democratização for completa na ordem social, a forma republicana, sua natural expressão na ordem política”.
Havia algo além do ecoar do ideário republicano que a imprensa publicava, alcançando os letrados. Havia o som das vozes alteadas nas conferências e nos comícios, que poderiam contar com a participação popular. Havia, ainda, grupos que discutiam e liam jornais em público. Espalhavam-se comentários sobre a crise. Ouviam-se conversas, aqui e ali, na capital do Império, nas confeitarias e nos cafés. E, como algumas coisas não mudam, em tempos distantes da internet, nas mesinhas onde as xícaras tilintavam, as reclamações eram o assunto preferido. A crítica à monarquia conjugava-se à propaganda republicana com seu discurso, por exemplo, sobre a liberdade, sobre a promessa de participação política ou, ainda, sobre o progresso científico: esperanças e expectativas.