O controle das terras no entorno da Baía de Guanabara conta os primeiros capítulos da história da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro durante o governo-geral de Mem de Sá (1500-1572). Na virada do século XVI para o XVII, a região vivia um período em que a atividade econômica fundamental era a canavieira. Porém, transformações importantes aconteceram quando metais e pedras preciosas foram descobertos na região das Minas Gerais, entre o final do século XVII e o começo do XVIII.
Nos primeiros momentos, a cidade deparou-se somente com os inconvenientes dessas descobertas. Gêneros de toda sorte tiveram seus preços aumentados, enquanto a mão de obra para serviços diversos diminuiu, diante da corrida em direção aos locais onde estavam as minas de ouro, prata e pedras preciosas. Todavia, a cidade, ocupando uma posição estratégica no litoral sul, na Baía de Guanabara, passou a desempenhar um importante papel portuário e comercial. O quadro secundário que ocupara até então, se comparado ao de outras regiões da América portuguesa que abasteciam os cofres da Coroa lusa, seria profundamente modificado a partir da mineração e das atividades em seu entorno.
O Porto do Rio de Janeiro tornou-se o principal centro exportador e importador, por onde saíam ouro e diamantes e entravam escravos e produtos manufaturados, entre outros. Além disso, a necessidade de aprimorar e controlar a arrecadação de impostos na região mineira, o aumento do contrabando e a maior proximidade com a bacia do Rio da Prata – objeto do desejo da monarquia portuguesa – explicam a transferência da sede do governo da América portuguesa de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763.
Calcula-se que, entre 1650 e 1700, a média de embarcações transportando mercadorias diversas de Portugal para a sua colônia americana chegasse a 68, um número considerável ante os recursos disponíveis. Saindo de Lisboa, os barcos cruzavam o Atlântico em frotas ou comboios, convivendo com o risco por parte de piratas e contrabandistas. As tempestades também prejudicavam a navegação, alterando o ritmo da chegada ou da partida das naves – todas de nacionalidade portuguesa. Do Porto do Rio de Janeiro, partiam embarcações com açúcar, toras de pau-brasil, couros, barbatanas de baleias e ouro. Em 1699, segundo o historiador Gustavo Barroso, foram enviados para o Tesouro lusitano “35 arrobas de ouro em barra. Isto é o que foi legalmente registrado. Pode-se calcular outro tanto passado facilmente em contrabando”.
Ambições e desejos se espalhavam naqueles tempos, na busca do que parecia não ter fim: riqueza e poder.